terça-feira, 13 de julho de 2010

Cinza


Hoje...
O dia estava lindo.
Ar que espera chuva.
E choveu.
A paisagem vestiu suas vestes acinzentadas.
Nubladas.
Perpétuas.
Eu me senti mais viva, me senti viva mais uma vez
entre a neblina, a chuva, o vento, a garoa.
E tão cinza como filmes em preto e branco.
Feito os anúncios de jornal.
Cinza.
Feito grandes prédios sem tinta
Ou como o metro e carros que pintamos de cinza.
Cinzas.
E lavamos as almas, as respirações.
Eu me entreguei ao prazer de ver, de olhar
e continuou tudo cinza.
Foi mesmo um lindo dia.
Todo acinzentado, ensimesmado.
Turvando as luzes da metrópole
São novos pontos de vista
(um em cada gota de chuva).
Pontos e ponteiros do relógio.
Gotas de remédios, gotas de chocolates.
Pontos em gotas. Prismas!
Sem coloridos.
Todos adormecidos.
Asfalto cinza. Sofá cinza.
Cinzas de algum cigarro.
Cinzas entre o preto e o branco.
E no meio da chuva e da ventania
paira o silêncio quieto, cismado.
Ele luta pra ser ouvido
nesse lindo dia cinza que foi...
Hoje.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Tolice


Tens razão meu amigo. Eu não sou confiável.
Eu me perco com grande freqüência, eu distorço emoções.
Eu sinto tanta dor, e ela logo passa inigualável.
Sinto tanto amor, mas ele se derrete sem condições.

Mas meu coração não. Esse se destrói e se reconstrói
Como mar que te molha os pés e se vai sem dizer adeus, sem avisar
Ou uma melodia de Chopin, Mozart, me corrói.
Mas não volta, só quer pra sempre navegar.

Eu me camuflo no meu medo. Eu sou uma criança frágil e cruel.
Eu nasci para conselhos, para felicitar e para comemorar.
Eu não nasci para o amor. Eu nasci para suportar a dor e o fel.
E, talvez, devesse então calar-me sem antes mais me afundar.

Eu não mereço nada de ti. Nada. E não insisto.
Se me desprezas, ainda devo me satisfazer com o luxo que é teu desprezo.
Se me encantas, eu desisto, se me queres longe eu persisto.
Mas nunca persisto de mais. Eu logo parto sem ensejos.

Eu gosto de partir (além mar), mas não gosto de partir (qualquer tipo de espera).
Ninguém merece esperar-me. Qualquer luz já se pôs.
Eu não sei voltar. Pois se um dia eu soube amar, foi-se em outra era.
Levou consigo e se foi (pra sempre, o amor, a capacidade, os dois).

E falo tanto de mim. Quanta pequenez e mediocridade.
Me desnudo, pois nada pode me dar novamente à luz do brio.
Se me disseram que mereço a solidão. É sim parte em verdade.
Se eu acredito, não mais, e talvez, nunca mais. Vazio!

(Para melhor conviver, vou me esquecer.
Meus fictícios personagens são humanos muito melhores do que eu).
E não há nada para dizer.
Nada, e eu já sei. Adeus.

domingo, 4 de julho de 2010




Se o coração aperta, angustia-se e sofre em cada momento de silêncio entre os espaços truculentos dos sons da rotina, eu me perco.
Se eu tenho tantos motivos, e nada me fortalece, eu padeço e quero desistir.
Mas não me cala a alma, o coração grita cada vez mais, enquanto nas esquinas das emoções eu procuro rir com o andar calmo da natureza do tempo, e suas brincadeiras com meus sonhos.
E novamente eu me perco.
Choro um choro afogado nos erros, nas incertezas e nas incapacidades de meus sentimentos.
Esfrio-me, me congelo, busco a distância, e me arrependo.
E outra hora não mais, e logo mais volta, e se vai. E não sei...
E de repente eu apenas deixei de acreditar.
E o grito do coração quer sobrepor-se ao grito da alma, que por sua vez, quer sobrepor-se ao grito do coração, e meu raciocínio falha.
Eu me ajoelho.
Caio nas lamentações inúteis do vazio, do não concreto, do não dito, mas arrebatadoramente sentido, atravessando o peito, plantando as dúvidas, as vontades tolas e as vozes em ecos do futuro, do passado, do medo do presente.
E deveria ser tão fácil, mas algo me fez (nos fez) tropeçar no meio do caminho.
E agora eu vejo outros caminhos, de passos solitários que visam horizontes diferentes.
Ao menos por enquanto, meu coração quer ficar quieto, quer acalmar-se para estancar o choro e parar de gritar.