quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ecos Natura




Nós contamos tantas estrelas em tantos anos e descobrimos os deuses.
Nós dançamos em rodas e em rodas em volta das fogueiras cantamos nossas paixões, nossas vitórias e nossas alegrias.
Em cada refrão de nossos sonhos, as pequeninas fadas vieram iluminar a escuridão das florestas.

E durante infinitas eras nossos ecos ecoariam, para além das florestas, pelos mares, em cada pequeno canto do vasto mundo.
E a cada horizonte vencido, nossas rezas pagãs e nossas canções de paz tornariam cada pequeno vilarejo mais harmônico.
Os deuses finalmente felizes descansariam e sobre nós apenas seus dons nos seriam trazidos como presentes através das chuvas e das estrelas cadentes.

Mas depois da tempestade e da ira, só o que nos restou, foram ouvidos surdos para nosso canto e corações apáticos para nossos ensinamentos.
Não poderia haver mais paz sem que houvesse alguém capaz de ouvir nosso canto e entender que nós falamos de algo dentro de cada um.
Algo que pode aquecer cada desesperado e cultivar a justiça em nome dos deuses.

Depois de tantas batalhas que esmagam o som de nossas canções, quase não há mais força em nossas veias e nem brilho nos olhos.
Não sabes para onde ir, ou para que continuar nesse truculento caminho construído.
Para que?
Mas se fecharem os olhos de todos e o único som a repercutir fosse o ritmo cadenciado da batida dos corações, nós poderíamos novamente ascender a fogueira e lhes dizer novamente, sobre as eras de contar estrelas nunca registrada.

Tens construído estradas que não levam a lugar algum que realmente possa se desejar estar.
Quando estar em roda perdeu o sentido, não há mais sentido para navegar pelas longínquas águas da alegria.
São como pequenos pássaros voando solitários, são peixes brilhantes ganhando águas escuras que não podem ser partilhadas.
São como uma sinfonia nunca composta ou uma poesia nunca escrita.

Mas nós ainda estamos cantando, ainda esperamos que alguém desnude-se das avarezas e dos julgamentos, e dentro de seu peito deixe-nos acender a fogueira.
Para cantarmos em roda e em rodas possamos nos tornar como um único corpo.
E finalmente os deuses nos tragam a dádiva do amor, da justiça e a paz.
Através de cada gota de chuva, estrela cadente e raio de sol.



Imagem: “A Parábola das Dez Virgens” de Friedrich Wilhelm von Schadow

3 comentários:

  1. Você não participou de rituais ??? Descreve como se fizesse parte de um, nos primeiros parágrafos, incrível!

    ResponderExcluir
  2. A magia está dentro de nós...
    Beijinhos e a poesia da Sophia Andresen
    --
    Quem és tu

    Quem és tu que assim vens pela noite adiante,
    Pisando o luar branco dos caminhos,
    Sob o rumor das folhas inspiradas?

    A perfeição nasce do eco dos teus passos,
    E a tua presença acorda a plenitude
    A que as coisas tinham sido destinadas.

    A história da noite é o gesto dos teus braços,
    O ardor do vento a tua juventude,
    E o teu andar é a beleza das estradas.

    ResponderExcluir