sábado, 12 de julho de 2008

Luz




Quantas vezes li e reli a mesma cena?
Busquei pr’a não consumir-me em dor, alívio.
D’outro tom qualquer outra luz amena,
Que clareasse e desse-me vida à nova face em meu abrigo.

Quis deixar rolar meu pranto e revelar meu encanto
Desta vida ambígua, onde sonhei dar-te o corpo meu.
E entre estas noites quentes, meu suor de volúpia é tanto,
Que me pesa deixá-los, oh desejos! Em meu sono quase ateu.

Viste que víbora traiçoeira me picara pela manhã,
Quando a noite cai, tua filha torno-me. Híbrida!
Cultivo no meu seio um rosário rubro, e sã
Eu te vejo me ferir com teus espinhos de ponta gélida.

Memórias sufocam-me com seu antiquário empoeirado
E a mesma cena revela-me o canto, o medo, esquecido sorriso.
Amor puro por tua essência é inspirado
A mesma história (da voz de gralha insípida) se repete, meu amigo.

Nada mais não mais me tornará o leite ou o vinho,
Beberei só do que por direito me é provido.
Do pão qu’eu como, alimento, pro dia sozinho,
Ceifar-me do prazer (teu colo, ou seja) me é devido.

Qu’esta luz me acendesse, azul ou rosa magenta
Pintaria eu, teu retrato, que te és merecido ser infinito.
Pelos teus dedos, a passar, com suavidade tremenda,
Eu deixaria manchar minha face (à tua vontade)
Desenhando um labirinto.

Refaz-se no meu peito o madrigal de vidas.
Rejubila em meu pescoço teu aconchegante respirar
E no meu peito e rosto teu sublime olor, dúvidas?

Apaixonar-me é tão inútil quanto te adornar:
Vela acessa sob o sol do meio-dia alegre, vivente,
Enquanto permaneço, na perversa escuridão, triste somente.

Na penumbra nenhuma luz se faz surgir,
Ao contrário, és tu que vais a me deixar aqui.
Ao contrário...


(escrito em meados de 2006)

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